Os não entendidos sobre o ato de educar, dito leigos, pensam que ser professor alfabetizador é muito fácil, onde somente se brinca com as crianças, as leva ao sanitário, para o lanche, para tomar água, e se tudo for feito em tempo hábil está ótimo e de bom tamanho. Porém, não é tão simples assim, vai muito além do que pode fazer qualquer cuidador de crianças, tarefa que exige disciplina, comprometimento, entrega e muito estudo, sendo este o perfil de um bom alfabetizador, aquele, que vai muito além do B+A = BA.
Alfabetizar é a "fundação/ base da educação" e caso não seja bem trabalhada e desenvolvida, poderá gerar "lacunas", "defasagens" que posteriormente implicarão na má formação educacional, ou seja, a "construção" seguirá com "falhas", podendo as crianças, adolescentes, jovens e adultos terem certas dificuldades à medida que o ensino vai se graduando, e é aumentado o grau de dificuldade.
O mundo de hoje é muito dinâmico, audiovisual e multissensorial, são milhares de informações enviadas e captadas no decorrer do dia. Caso o alfabetizando chegue na sala de aula e se depare com métodos muito tradicionais, é bem provável que "captar", compreender e assimilar o conteúdo proposto será bem difícil, e um tanto monótono não importando a idade, o que impede ou dificulta a aprendizagem.
O professor alfabetizador deve usar constantemente da criatividade buscando desenvolver atividades que prendam a atenção dos alfabetizandos de modo que participem ativamente das aulas propostas e venham se desenvolver na aprendizagem. É preciso que o professor alfabetizador associe sempre fatos às imagens, aos sons, à escrita e à realidade, mediante os conhecimentos e experiências dos alfabetizando, levando-os à compreensão dos conteúdos abordados e seus usos na vida prática ou seja, no dia a dia.
Há momentos para aulas expositivas, há momentos para brincadeiras, bem como há momentos para diversificar a prática pedagógica, tornando-a mais atrativa aos alfabetizando, mas não há momentos para rotinas que não levam à aprendizagem real e atendimentos às necessidades também reais de cada alfabetizando.
Os conteúdos e ou conhecimentos a serem abordados e repassados aos alfabetizando devem estar sempre associados à prática ou seja, direcionadas às vivências, por isso, use e abuse de atividades extra-classe como pequenas excursões ao redor e proximidades da escola, e quando possível mais distante de acordo com as necessidades da classe. Visite supermercados, quitandas, mercadinhos, bazares, museus, posto de gasolina, bancos, praças, prefeitura, etc.
Encenar e teatralizar situações do cotidiano, criar hábito de rodas de conversas formais e informais (diálogo), são sugestões muito bem vindas para quem quer formar cidadãos críticos e ativos a atuarem no mundo desde o presente, pois a educação não é para o passado, e nem tão pouco para o futuro, e sim, sempre para o presente, que se bem trabalhado gerará consequentemente um futuro promissor para cada alfabetizando. É preciso quebrar este estigma de que "se educa para o trabalho" ou formação profissional. A pessoa, não é a profissão que escolheu, e sim a pessoa que se formou durante o processo em que foi educada pela família, escola e sociedade, até se tornar a "pessoa profissional", que fora do trabalho vive outros papéis sociais para os quais a família e a escola devem preparar bem.
É preciso que o professor alfabetizador tenha como ponto de partida as experiências vividas por seu alfabetizandos, o que demanda sensibilidade para "ouvir" e "dialogar" com os mesmos numa via de mão dupla, lembrando sempre que o professor alfabetizador (ou demais professores) não é (são) o (os) único (únicos) detentor (detentores) de saberes. Há saberes e saberes, e enquanto mediador, o professor alfabetizador deverá nortear a prática pedagógica de modo que haja participação ativa dos alfabetizandos no processo ensino aprendizagem, demandando maior independência aos mesmos, de modo que possam ir além do proposto, com suas próprias ações e busca numa verdadeira aprendizagem, sustentável e continuada.
Trabalho com rótulos, embalagens, fantoches, bulas de remédios, receitas da vovó, música, poesia, jardinagem, hortaliça, brincar de casinha, brincar de escolinha, dentre outros que abordem também a "alfabetização matemática", são sempre úteis e nunca entram em desuso.
Trabalhar bem a psicomotricidade com os alfabetizandos, usando o lúdico, contribui para "solidificar" as aprendizagens dentro da sala de aula. É visível os reflexos na escrita e na matemática, de um acompanhamento psicomotor mau sucedido.
Como dito inicialmente, alfabetizar não é tarefa fácil, e se for bem feita os ganhos nas séries ou etapas posteriores e para a vida, serão de um saldo bem mais qualitativo, positivo e saudável, e quem ganha somos todos, a família, a escola, os alfabetizandos e a sociedade como o todo.
Por Adalmir Oliveira Campos (Pedagogo, poeta e escritor)